sobre (escolher) habitar

segunda-feira, 15 de junho de 2015


imagino sempre uma cabana, daquelas de filme de mágica, que parece pequena por fora e gigantesca por dentro. imagino-a montada no meio de uma clareira, um céu estrelado, sem nuvens, e a lua pendurada no céu. aconteça o que acontecer, ela estará ali montada, enfrentando neve, chuva, sol, o que for. ela se mantém de pé. porque Ele está ali.

a cabana foi feita para mim, dentro dela está tudo o que eu preciso, meu arco e flecha, minhas roupas, meu alimento, tudo o que eu sou e tenho, e o mais importante: Ele.

o Artesão vive ali.


eu fui criado para habitar nessa cabana, todos os dias e viver ao seu redor. explorando a Criação, as obras das mãos dEle, mas admito que existem dias que eu sinto uma vontade louca de fugir daqui.

fugir dessa cabana.

fugir dessa clareira.

fugir dessa presença.

mas me lembro que não existe outro lugar que eu me sinta em casa senão ali, afinal, ele me escolheu para viver em sua presença. e então permaneço, busco diariamente um relacionamento mais profundo.

ele me escolheu para viver em paz, seguro, em meio a natureza.

ele me chamou para ser completo.

ele me chamou para viver.

a melhor parte disso tudo é que o relacionamento com o Artesão não é aquela coisa chata, Ele até me ensinou a montar uma fogueira, e ateou um fogo que nunca se apaga.

Ele arde para sempre.

como estrelas

sexta-feira, 29 de maio de 2015

já fazia um tempo que não via estrelas no céu, mas hoje elas estavam lá.

penduradas na imensidão escura de uma sexta-feira, elas brilhavam rodeadas por nuvens finas e poluição.

então me lembrei que alguém um dia me disse que o brilho que vemos de uma estrela hoje não é o brilho de hoje, e sim o brilho do passado, o brilho de uma estrela morta.

e isso me fez pensar.

se uma estrela, de alguma forma, brilha depois de morta de que forma eu farei isso?

como eu deixarei minha marca no mundo/universo, ou melhor, na existência? como a luz que existe em mim continuará brilhando eternamente pelas galáxias a dentro?

felizmente, encontrei a resposta na minha mente, pois sei que so há um jeito de ser eterno — e como a estrela, eu preciso morrer para isso.

preciso morrer para continuar brilhando, por isso já não temo a morte, pois sei que ao morrer, encontrarei Vida naquEle que tudo criou.

ao morrer, continuarei brilhando.

como as estrelas, ou até mais que elas.

gravetos

sábado, 23 de maio de 2015

agacho para pegar um graveto que está no chão e ao me erguer minhas costas estalam. não sou um homem velho, tenho vinte e dois anos e tenho um modo peculiar de viver a vida.

procuro ser um homem simples, assim como o Mestre o foi. Ele era simples, divertido, as pessoas gostavam de ficar com Ele, de ouvi-lo falando, e eu tento todos os dias ser uma pessoa como Ele, é claro, que se tento ser como o Rei Guerreiro serei perseguido.

nem todos gostaram/gostam do meu Mestre.


e sinceramente? eu não ligo. tenho me preocupado com a minha vida espiritual ultimamente, e mesmo que eu esteja aqui colhendo gravetos para minha fogueira eu me preocupo.

certa vez um menestrel me perguntou como eu conseguia viver da maneira que vivo. e que a minha forma de vida incomodava os outros, até mesmo os outros que eram iguais a mim.

na hora eu não soube muito bem o que responder, mas hoje já tenho um entendimento melhor.


como esses gravetos eu sou frágil, fraco e não cabe a mim julgar o que é certo e errado.

eu procuro estudar as escrituras, e buscar nEle as respostas. se hoje eu pudesse voltar no tempo e encontrar aquele menestrel diria algo parecido com isso:

— não vale a pena ficar preso ao tradicionalismo que todos seguem, eu procuro ter um relacionamento pessoal com o Eterno, e desenvolver os dons que ele me deu da melhor forma. a cada dia me esforço para que as minhas falhas não atrapalhem meu relacionamento com Ele. até mesmo naqueles dias que eu estou fraco eu tento, porque o poder dEle se aperfeiçoa na fraqueza. Ele é meu juiz e eu não posso fazer esse julgamento, se eu quero vencer o mal, Ele me dará o poder para isso, Ele é meu juiz, Ele é nosso juiz.

sorrio, essa até que é uma resposta boa.

mas que pode não convencê-lo de nada.

começo a caminhar de volta para o nosso acampamento. meu parceiro está lá me esperando, ainda deitado na barraca com a camiseta parcialmente levantada, mostrando sua barriga coberta de pintas.

me pergunto mentalmente quanto tempo passei fora colhendo gravetos.

cálculos.

é engraçado como nós gostamos de calcular tudo, sentimentos, tempo, nossos bens...

mas é engraçado parar para contar o tempo, em segundos, minutos, horas, dias, meses, anos... se nós só vivemos no presente, no agora e o passado já não importa mais, e mesmo que o futuro seja incerto, nós temos Esperança que ele será melhor.

é engraçado parar para pensar que o presente, foi o nosso futuro e será nosso passado um dia.

deposito os gravetos no chão e entro na barraca para te acordar.

o tempo na terra é curto, e eu quero viver não um minuto, um segundo, um dia, um ano, eu quero viver os momentos.

todos os momentos que Ele nos reservou.

— acorda — eu falo, e então sorrio.